Papo de Arquibancada


Futebol para cegos na Paralimpíada de Londres, 2012
Por Lucas de Abreu Maia (*) no site Veja:
 
"Os ingressos oficiais mais caros para a Olimpíada do Rio chegaram a ser vendidos a 1200 reais. Na paralimpíada que começa em 7 de setembro, os melhores assentos serão vendidos, no máximo, a 130 reais, mais de nove vezes menos. Se a diferença de preço não diz nada ao leitor, deveria: é sinal de que tem ao menos nove vezes menos gente disposta a assistir aos atletas paralímpicos competirem. Conforme são estruturadas, as paralimpíadas são um evento excludente para espremer o resto de lucro possível dos Jogos Olímpicos e, de troco, dar uma sensação de empatia aos telespectadores sem deficiência que veem histórias de superação pela televisão.
 
Não fui sempre dessa opinião. Em 2007, recebi um convite para ser repórter no Parapan. Aceitei porque era um moleque inseguro de 21 anos, louco para ter uma experiência jornalística real. Mas aceitei cheio de receios. A ideia de uma competição para deficientes me incomodava, mas eu não sabia exatamente o porquê. Profissionalmente, eu não cursava faculdade de jornalismo para virar repórter sobre deficiência, ou para pessoas com deficiência. Queria ser um repórter com deficiência, ponto. Isso não deveria dizer nada sobre a qualidade ou o foco do meu trabalho. Durante a cobertura, todos os meus receios se confirmaram.
 
É esse o problema do paraesporte – a ideia de que exista qualquer coisa para deficientes. No caso da paralimpíada, cria-se uma competição de segunda classe, com ingressos a preços ridículos, porque ninguém quer pagar caro para assistir um evento de segunda classe. A mensagem é uma só: os atletas são de segunda classe.
 
Mascara-se o fato de que pessoas com e sem deficiência podem perfeitamente concorrer em pé de igualdade em vários esportes. Judô, natação e adestramento de cavalos, por exemplo, não são em princípio inacessíveis a pessoas cegas. Já houve ginasta sem uma perna competindo nas olimpíadas.
 
O esporte é, por definição, um estímulo às diferenças biológicas entre pessoas. Michael Phelps só é Michael Phelps porque tem pulmões anormalmente grandes. Os maiores maratonistas do mundo têm, invariavelmente, uma proporção maior de hemácias no sangue. Por que diferenças mais visíveis não podem também ser celebradas nas olimpíadas? Claro que vários esportes exigem adaptações para que pessoas com deficiência possam neles competir. Exemplos clássicos são vôlei ou basquete em cadeira-de-rodas. A solução, no entanto, é tão óbvia que me espanta ninguém tê-la posto em prática ainda. O Comitê Olímpico Internacional já admite que há vários esportes em que atletas com diferenças biológicas não conseguem concorrer em pé de igualdade – por isso há modalidades femininas e masculinas. Por que não adicionar aos Jogos Olímpicos modalidades de esportes adaptados?
 
O movimento por direitos de pessoas com deficiência pode ser sintetizado como o esforço para que sejamos integrados à sociedade – na escola, no trabalho e no lazer. Diferentes nas necessidades, porém iguais no talento. Mas, em vez de criar condições para que compitamos em pé de igualdade, a Paralimpíada aproxima a linha de chegada para que a alcancemos mais facilmente – sem competição externa. Claro que a diversidade física deve ser celebrada. Mas essa celebração deve se dar no mesmo estádio; não quando as luzes do evento principal já se apagaram.
 
Poucas coisas são mais ofensivas para uma pessoa com deficiência que a tal da história de superação. Ninguém tem de se orgulhar de viver uma vida completa, independentemente de desafios. Não é essa a história de todos nós, com ou sem deficiência? A paralimpíada é um evento discriminatório porque ignora todos os aspectos mais interessantes da personalidade e da história de um indivíduo para reduzir-lo a suas limitações físicas. É um sinal da falta de visibilidade das pessoas com deficiência que ainda seja considerado um avanço um evento feito para excluir, em vez de integrar."
 
(*Lucas de Abreu Maia é jornalista e doutorando em Ciência Política na Universidade da Califórnia. É cego de nascença)
 




Cléo Pires e Paulinho Vilhena 'amputados' e ao lado dos atletas

Atestado médico terá de ser renovado a cada doze meses em MS

Cartaz do MST anuncia ato com Lula


Após encerramento, aviso prévio para funcionários

Cena do encerramento da Rio2016 no Maracanã

Acabou em samba os Jogos Rio 2016 no Maracanã
Pela jornalista Mary Zaidan no Blog do Noblat em O Globo:
 
"O Brasil fez bonito. Atletas, organizadores, voluntários, público daqui e de todo o lugar do planeta. Um espetáculo de orgulhar até os mais ranzinzas. Mas em seu cotidiano o país está longe do espírito e das lições olímpicas. Digladia-se com o seu próprio sucesso, alimenta polêmicas inúteis. E não tem Engov capaz de refazê-lo da ressaca do dia seguinte, quando tudo voltará a ser como antes.
 
Nesse meio mês de jogos, abriram-se espaços para os especialistas em tudo, muitos execrando atletas de modalidades das quais nem mesmo conhecem as regras. Até a torcida foi vítima da chatice do politicamente correto, alvo de críticas por vaiar atletas, reação usual em todos os cantos do mundo, tão legítima quanto o aplauso.
 
A má vontade com os jogos em um momento que não cabia mais debater se o Rio tinha ou não de sediá-los frequentou rodas de artistas e intelectuais, bares, esquinas, redes sociais e a mídia convencional. Exemplo cristalizado pela Folha de S. Paulo depois da medalha de prata das meninas em Copacabana: “Militar, dupla não consegue quebrar jejum de 20 anos no vôlei de praia”.
 
Além de desdenhar das atletas, a manchete, para lá de agressiva, expôs uma das maiores polêmicas dos jogos: o patrocínio militar. Quase um terço da equipe do Brasil – 145 dos 465 atletas que participaram dos jogos – integra o Programa de Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas. Tem patente de terceiro-sargento e recebe soldo.
 
O Brasil não é nem o primeiro nem o único país em que as Forças Armadas bancam treinamento de atletas. Acontece na totalitária China, na social-democrata França, na anárquica Itália. Mas, por aqui, o que deveria ser investimento em competitividade se transformou em rixa ideológica. Ridícula, boba, de ocasião.
 
Um antagonismo ranheta e ultrapassado de fundamentalistas de direita e esquerda que expressa o quão imaturo o país ainda está.
 
De um lado, extremistas de direita derretendo-se em loas não à competência dos atletas, mas ao fato de eles serem militares. De outro, esquerdóides fazendo pouco do mérito dos medalhistas. Para essa turma, bater continência à bandeira – que já havia dado pano para manga no Pan-americano de Toronto – é crime.
 
E para arrematar o conjunto de absurdos, o Ministério da Defesa se vangloria não das vitórias brasileiras, mas do fato de uma dúzia das medalhas serem de atletas-militares. Como se militar fosse melhor do que civil, como se uma categoria fosse mais brasileira do que outra.
 
Fora o enfado de ranços dessa natureza, tudo deu certo. Os jogos da zika endêmica e da violência extrema surpreenderam pela ausência do Aedes Aegypti, que sabidamente some no inverno, e pela presença de policiamento ostensivo.
 
Quase tudo. Não fosse a morte a tiros do soldado Hélio Vieira Andrade, no Complexo da Maré, a escancarar de forma trágica que o Rio real não é o olímpico, as ocorrências negativas dos jogos se limitariam a pedras atiradas em um ônibus com jornalistas, dois assaltos de fato e outro inventado por nadadores americanos, que feriu mais o brio dos brasileiros do que a morte do militar de Roraima.
 
É inegável que o Rio - e com ele, o Brasil -- ganhou com os jogos. Aceleraram-se projetos de reurbanização, de transporte urbano, como a extensão do metrô e a construção do VLT, de revitalização da área central. Mas amanhã vai acordar meio zonzo, ainda tonto. Depois, doído.
 
A péssima qualidade dos serviços públicos, as greves permanentes na Educação e na Saúde, a falta até de insumos básicos nos hospitais e a insegurança turvam o olhar para o tão propalado legado da Rio 2016. O Estado, literalmente falido, não tem dinheiro para nada. E a cidade não sabe o que vai acontecer quando os seis mil homens da Força Nacional, convocados para garantir a segurança olímpica, forem embora.
 
Mas, como na terça-feira de carnaval, hoje ainda é domingo. Vale a folia.
 
No encerramento da Rio 2016, o Brasil poderá festejar o seu melhor desempenho olímpico da história. E reverenciar a meritocracia. Sejam homens, mulheres, gays, pretos, brancos, amarelos, civis, militares, crentes ou agnósticos, vencem os mais preparados, os melhores. E os que não chegam ao pódio tentam melhorar as suas marcas. Sem ódio. Uma lição que vai muito além dos jogos. Aprendê-la seria um legado e tanto."
 




Wallace e Lucão barram ataque da Itália na decisão de ouro do Brasil

Jogadores fazem 'medalhaço' e Neto responde no Instagram
A conquista do ouro olímpico para o futebol brasileiro levou jogadores da seleção a fazerem um "medalhaço" no Instagram do ex-jogador Neto em resposta às críticas do comentarista da Band ao time, que chegou a postar na rede social um vídeo em que aparece fazendo embaixadinhas, com a legenda: "Dureza ver essa seleção masculina na Olimpíada". Pelo Instagram, Neto respondeu: "É isso aí! Gostei de saber que se preocuparam primeiro em me responder do que em comemorar. Mas lembrem que a resposta verdadeira tem que ser dada dentro do campo. E vou estar sempre de olho!"