
Da ceva
Recentemente, uma onça-pintada atacou o caseiro Jorge Avalo, no Pantanal de Aquidauana. O ataque, infelizmente, levou o caseiro à morte, por consequência de uma prática comum naquela região, a ceva, que consiste em alimentar o animal para que ele se habitue com a presença humana.
Embora seja comum, essa prática pode acabar causando o efeito contrário, na medida em que aumenta o risco de ataques ao fazer com que animais silvestres percam o medo natural do homem e passem a associá-lo com a oferta de alimento, como parece ter sido o que causou a morte do caseiro.
O coordenador do Programa de Conservação da Panthera no Brasil, Fernando Tortato, fez um alerta nesse sentido: “Ao condicionar o animal à presença humana, ele perde esse medo natural que uma onça tem do ser humano, e isso não deve ser encarado como normal. E o pior dessa questão da ceva é que ela passa a associar o ser humano com alimento. Então, além de você condicionar o animal a ficar transitando em ambientes do homem de maneira tranquila, ele também o condiciona à alimentação”.
Para o tenente Alexandre Saraiva Gonçalves, comandante do pelotão de Porto Murtinho da Polícia Militar Ambiental, a convivência de animais silvestres com humanos e a alimentação oferecida para a onça são um ponto de atenção na morte de Jorge Avalo: “A ceva é uma ação proibida na legislação estadual e federal”.
Fernando Tortato reitera que os animais estão sendo 'cevados', ou seja, alimentados com frequência por pessoas para fins turísticos — uma prática criminosa que traz riscos tanto para os humanos quanto para os próprios animais. O especialista chama a atenção para os riscos da “espetacularização da fauna”, impulsionada pela busca por fotos e vídeos com animais silvestres.
“A gente está em um mundo muito atento às mídias sociais, com essa espetacularização da fauna, onde você vê um animal muito perto e faz vídeos. As pessoas querem registrar momentos impressionantes, como interações de perto com animais selvagens, mas esse tipo de comportamento leva a riscos desnecessários”, alerta.
Essa prática com animais, proibida por lei, se for transposta para o comportamento humano, também pode ser observada com o aliciamento feito por traficantes de drogas para a conquista de novos usuários. Começa com a oferta, aparentemente inocente, em que se oferece uma quantidade mínima de entorpecente, causando grande euforia, e a partir daí começa a ceva do ser humano, que, por consequência, acaba levando à dependência química. O uso de drogas só é possível porque tem quem o financie. E quem é esse financiador irresponsável que sempre está concorrendo para a disseminação do uso de drogas? A classe média, que procura se eximir e até condena o uso, mas não assume ou talvez não perceba o quanto sua irresponsabilidade concorre para esse câncer social que está cada vez mais vitimando a nossa juventude.
Essa mesma prática é desenvolvida pelo corruptor que se esconde sob o manto de uma atividade cada vez mais em voga, o lobby. O lobista começa oferecendo uma pequena vantagem, cevando a resistência natural das pessoas, e aos poucos vai envolvendo suas vítimas que, depois de uma certa participação, passam a ser coniventes. E a partir daí, encontram sempre meios para justificar sua participação: “Eu tenho que sobreviver, entende?”
Então, se não houver um despertar consciente para se livrar desse mundo cão, a queda é inevitável. Mais cedo ou mais tarde.
Mas todos possuímos o recurso natural mais poderoso do mundo, a consciência, que atua influenciando diretamente a mente. Cabe a cada um descobrir como aproveitar ao máximo esse incrível mecanismo de cocriação, que Deus nos proporcionou.
Assim, cabe a cada um, conscientemente, administrar sua vida que é infinita, infindável, que proporcionará a colheita dos seus próprios atos, sejam quais forem.
(*Heitor Rodrigues Freire – corretor de imóveis e advogado)
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Postado por: Heitor Freire (*), 10 Maio 2025 às 09:15 - em: Falando Nisso