As urnas deixaram de fora no domingo alguns medalhões da política nacional.

"Em 2019 Nelsinho Trad, que presidia a Comissão de Relações Exteriores do Senado, foi com Bolsonaro à ONU. Desta vez, Katia Abreu, que ocupa o mesmo posto, não integrará a comitiva".

Os principais jornais do Brasil divulgaram nesta manhã que Ernesto Araújo pediu demissão do Ministério das Relações Exteriores, após ser chamado pelo presidente Jair Bolsonaro para uma reunião no Planalto. Até agora, a demissão não foi confirmada pelo governo. O site O Antagonista, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) tomou café da manhã hoje com Bolsonaro no Planalto e disse ao presidente que permanência de Araújo no cargo se tornou insustentável após o ministro usar o Twitter para insinuar que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) faria lobby pelo 5G da China. Considerado por parlamentares como o principal obstáculo para a chegada de insumos e vacinas contra a covid-19 ao Brasil por causa de sua aversão ideológica contra a China e outros países não alinhados à direita, a saída de Araújo vinha sendo cobrada pelo Congresso há dias e pressão aumentou neste início de semana com o ataque do ministro à senadora.

A líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), reagiu no Twitter ao ataque do chanceler Ernesto Araújo à senadora Kátia Abreu (PDT-MS) neste domingo, após o ministro das Relações Exteriores insinuar na rede social que a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado teria feito lobby em defesa do 5G da China. "Ao plantar insinuações contra a senadora Kátia Abreu, o Ministro Ernesto Araujo atinge todo o Senado e lança sementes de joio nos campos da democracia. Quando menos a gente espera a democracia se vê sufocada. Não adianta somente podá-lo, porque a poda vai fortalecer a planta. Desse joio é preciso arrancar as raízes, fertilizar as mudas democráticas e 'forjar na democracia o milagre do pão'. Ernesto e democracia não andam juntos. Não há opção. Democracia fica. Ernesto tem de sair", escreveu a senadora Simone.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reagiu no Twitter ao ataque do chanceler Ernesto Araújo à senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO). "A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País", escreveu Pacheco.

Pressionado para sair do cargo por integrantes do Congresso que consideram sua aversão ideológica à China, Rússia e ao presidente dos EUA, Joe Biden, um sério obstáculo à chegada ao Brasil de insumos e vacinas contra covid-19, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, partiu para o ataque, insinuando no Twitter que a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PDT-GO), teria feito lobby pelo 5G da China ao almoçar com ele no Itamaraty. "Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.' Não fiz gesto algum", escreveu o chanceler no Twitter.

'MARGINAL' – Em nota à imprensa publicada pelo Estadão e outros jornais, Kátia Abreu disse que "é uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte". Sobre o 5G, ela afirmou ter defendido que o assunto não poderia "comportar vetos ou restrições políticas". E disparou: "O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições." Depois, Twitter, Kátia Abreu escreveu: "Desviar o assunto pra tirar o foco do que é mais importante: Vacinas e vidas! Vamos voltar ao jogo rápido. Não farei o jogo deles".

O Senado barrou por 37 votos a 9 e uma abstenção, ontem, a indicação do embaixador Fabio Mendes Marzano como delegado permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra (Suiça). Foi o primeiro diplomata indicado pelo governo de Jair Bolsonaro rejeitado na Casa. Um dia antes, Marzano teve seu nome aprovado por unanimidade na Comissão de Relações Exteriores (CRE) presidida por Nelsinho Trad (PSD-MS), mas na ocasião se recusou a responder à Kátia Abreu (PP-TO) como a imagem ambiental do Brasil prejudicava a assinatura do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. A senadora afirmou que o Itamaraty "está virando uma casa dos terrores, onde embaixadores não podem abrir a boca e dar opiniões" e tentou reverter seu voto em favor do diplomata, mas foi informada que isso não seria possível. Ontem, no plenário, o líder do PSL, Major Olímpio (SP), pediu a todos os senadores que votassem contra a indicação. "Que se faça outra indicação no começo do ano. Mas vir aqui dizer o que foi dito, de forma grotesca, e isso sair barato! 'Ah, mas eu sou do time do chanceler'. Para o inferno o chanceler! Respeito ao Senado, respeito aos senadores! Vamos todos votar contra esse cidadão", disparou.