A Polícia Federal amanheceu hoje cumprindo 24 mandados de busca e apreensão na Operação Ross, relacionada à delação de executivos da JBS sobre propinas pagas pelo grupo a três senadores e três deputados. Os alvos são endereços ligados ao senador e deputado eleito Aécio Neves (PSDB-MG), à irmã dele, Andrea Neves, e a mais cinco parlamentares: os deputados Paulinho da Força (SD-SP), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Benito Gama (PTB-BA) e os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Antonio Anastasia (PSDB-MG). A Operação Ross, desdobramento da Patmos, tem esse nome em alusão à plataforma de gelo Ross, maior superfície de gelo do planeta, em referência à grande quantidade de notas frias usadas no esquema de compra de apoio de políticos.

O ministro do Trabalho Helton Yomura é um dos alvos de busca e apreensão da terceira fase da Operação Registro Espúrio deflagrada nesta quinta-feira pela Polícia Federal que, junto com a Procuradoria-geral da República, pediram ao Supremo seu afastamento cargo, o que foi aceito pelo ministro Edson Fachin, relator na corte. Com o afastamento de Yomura após investigação de um esquema ilegal de registros sindicais, o Ministério do Trabalho está sem comando direto imediato, porque o posto de secretário executivo também está vazio, já que o ex-secretário Leonardo Arantes teve sua prisão preventiva decretada há um mês, informa o Estadão. Yomura é apadrinhado do ex-deputado e presidente do PTB Roberto Jefferson e de sua filha, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), que foram foram alvos das primeiras fases da operação. Yomura foi prestar depoimento na PF, mas, conforme O Globo, se recusou a informar a senha do celular funcional usado por ele, alegando que o aparelho possui “informações e arquivos privados” e que também era usado para seus fins particulares.

O jovem Mikael Tavares Medeiros, de 19 anos, vai perder a função de gestor de pagamentos de contratos que somam R$ 473 milhões anuais no Ministério do Trabalho. A portaria já foi assinada por Leonardo Arantes, secretário-executivo do ministério e sobrinho do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), diz o jornal O Globo. A princípio, conforme o jornal, o rapaz deve manter o cargo de Coordenação de Documentação e Informação do ministério, pelo qual recebe R$ 5,1 mil brutos. A perda do cargo acontece depois de O Globo divulgar que o precoce gestor indicado pelo PTB para gerir contratos de quase meio milhão de reais, é "filho de um dirigente da legenda e antes de atuar na pasta trabalhou como vendedor em uma loja de óculos, além de ter ficado de recuperação no ensino médio em 2016". O episódio levou o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que tentou sem sucesso emplacar a filha Cristiane Brasil como ministra, a dizer ontem no Twitter que o ministério "é uma cabeça de burro enterrada no seu partido" e anunciar que pediu a exoneração do rapaz.

A deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), nomeada por Michel Temer como ministra do Trabalho, é alvo de inquérito que apura suspeitas de tráfico de drogas e associação para o tráfico na campanha eleitoral de 2010, informa o Estadão de S.Paulo. A investigação foi enviada ontem à Procuradoria-Geral da República, porque ela tem foro privilegiado. O inquérito também apura suposto envolvimento no caso do deputado estadual Marcus Vinicius (PTB), ex-cunhado da parlamentar, e três assessores dela na época, acusados de dar dinheiro a traficantes de Cavalcanti, bairro pobre que é uma de suas bases eleitorais. Conforme as denúncias, assessores de Cristiane – que na época era vereadora licenciada como secretária municipal na gestão do então prefeito Eduardo Paes (MDB) – pagaram a traficantes para ter "direito exclusivo" de fazer campanha na região. Cristiane não se candidatou em 2010, mas apoiou a candidatura de Vinicius – então seu cunhado – à reeleição. Ela foi eleita deputada em 2014. Cristiane e Vinicius negam todas as acusações, diz o Estadão.

Sobre a polêmica do vídeo da deputada Cristiane Brasil, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, censurou a filha. Escreveu no Twitter que "a repercussão fala por si" e frisou que "uma figura pública deve se portar como uma figura pública, e usar ferramentas como Facebook e Instagram apenas em caráter institucional". Em outra postagem, Jefferson condenou, entretanto, alguns ataques sofridos por Cristiane na internet: "Aliás, como tem troglodita nas redes, hein? Menos moralismo e menos machismo, por favor."

Causou mal estar até entre parlamentares do próprio PTB, conforme O Globo, o vídeo postado nas redes sociais em que a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) aparece rodeada de amigos sem camisa em um barco dizendo que não deve nada aos ex-empregados, embora tenha sido condenada pela Justiça do Trabalho. O jornal diz que deputados da legenda já estavam incomodados com a insistência do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, na indicação da filha para ser ministra do Trabalho e que ela deveria se manter fora de foco, enquanto o assunto é decidido. "A divulgação desse vídeo foi muito ruim. Ela não apareceu com a postura de uma ministra" disse um parlamentar ao jornal. Integrantes do governo, conforme O Globo, também consideraram inoportuna a postura da deputada, mas ressaltaram que o Planalto vai insistir na via judicial para garantir a posse visando assegurar a prerrogativa de Michel Temer de nomear ministros. Veja o vídeo: