Antonio Palocci passa hoje a cumprir pena em regime aberto, conforme decisão tomada ontem pelo juiz federal Danilo Pereira Júnior, da 12ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba. Condenado na Lava Jato e preso desde setembro de 2016, o ex-ministro deixou a cadeia em Curitiba em novembro do ano passado e passou a cumprir pena em regime semiaberto, em casa, monitorado por tornozeleira. No regime aberto, ele poderá sair de casa durante o dia, com exceção aos domingos e feriados, e continuará usando a tornozeleira.

Em novos depoimentos de delação premiada, Antonio Palocci afirmou que Lula não quis pagar pelo tríplex no Guarujá (SP) com seus próprios recursos porque um "apartamento na praia" sujaria sua biografia. O ex-ministro contou que durante a evolução da Lava Jato, perguntou ao ex-presidente sobre o assunto: "Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu tríplex?". E Lula respondeu: "Um apartamento na praia não cabe em minha biografia." Palocci também disse que, por diversas vezes, entregou "valores em espécie" a Lula, inclusive dentro de caixa de celular e uísque. Na delação, o ex-ministro também afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff "deu corda" às investigações da Lava Jato, "uma vez que isso sufocaria e implicaria Lula", para que ele não concorresse à Presidência em 2014. Em nota, a assessoria de Lula classificou como "mentiras" as declarações do ex-ministro. (Com O Globo)

Antonio Palocci disse hoje em depoimento à Justiça Federal que Lula, quando era presidente, renovou a MP 471 que prorrogou benefícios fiscais às montadoras de veículos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em troca de dinheiro para o filho Luís Cláudio Lula da Silva. Palocci disse que quando era ministro da Fazenda, recebeu pedido de Luís Cláudio para um evento que organizaria em 2014. O valor seria em torno de R$ 2 e R$ 3 milhões. "Tenho testemunhas, registro de telefonema dele, agendas", afirmou Palocci. O ex-ministro disse comunicou  a Lula, e o ex-presidente disse que o caso estava resolvido porque tinha falado com Mauro Marcondes, informa o site G1. Conforme relatório da Polícia Federal, o dono da Marcondes e Mautoni repassou, à época, R$ 2,5 milhões à LFT Marketing Esportivo, empresa de Luís Claudio, por uma consultoria, pagamento que está sendo investigado na Operação Zelotes. O advogado de Lula, Cristinano Zanin, que tentou sem sucesso impedir o depoimento de Palocci, afirmou em nota divulgada pelo site do PT que "Palocci aproveitou de seu depoimento para fazer ataques a honra e a reputação do ex-presidente Lula e de seu filho Luis Cláudio".

Depois de dois anos no cárcere, Antonio Palocci deixou ontem a Superintendência da Polícia Federal de Curitiba para cumprir prisão em regime domiciliar, vai pagar R$ 149 por mês pela tornozeleira eletrônica. Além de ser monitorado, Palocci terá de pagar as custas processuais proporcionais e reparação de danos à Petrobras, de R$ 33,7 milhões. Conforme o site O Antagonista, o ex-ministro de Lula e de Dilma, que virou inimigo número um dos petistas, "também contratou uma equipe de segurança". A TV Globo divulgou ontem que Palocci fechou também uma segunda delação premiada, esta com a PF em Brasília. O novo acordo foi homologado pelo relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, pois envolve políticos com foro privilegiado. Nesta delação, conforme a Globo, o ex-ministro também deu informações sobre suposta atuação criminosa dos ex-presidentes Lula e Dilma em fundos de pensão.

Na véspera do feriado, a procuradora-geral da República Raquel Dodge denunciou Lula, a senadora presidente do PT Gleisi Hoffmann (PR), o marido dela e ex-ministro os ex-ministros Paulo Bernardo, o ex-ministro Antonio Palocci, o empresário Marcelo Odebrecht, e o chefe de gabinete de Gleisi, Leones Dall'Agnol; por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Conforme a denúncia, a Odebrecht prometeu US$ 40 milhões a Lula em 2010 em troca de decisões políticas favoráveis à empresa, como, por exemplo, o aumento da linha de crédito do BNDES para obras tocadas pela empreiteira em Angola. Ainda de acordo com a PGR, o dinheiro, que totalizava R$ 64 milhões à época, ficou à disposição do PT. Parte teria sido usada em 2014 na campanha de Gleisi ao governo do Paraná. O jornal O Globo diz que cabe à Segunda Turma do Supremo, integrada por Edson Fachin, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso Mello, aceitar ou rejeitar a denúncia, que poderá, ou não, transformar os acusados em réus.

Ameaçada por recursos supremos das forças políticas predominantes no País, a Lava Jato deve ganhar combustível. O acordo de delação premiada fechado por Antonio Palocci com a Polícia Federal, divulgado hoje pelo jornal O Globo, inclui informações e documentos fornecidos pelo ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff que "seriam suficientes para abertura de novos inquéritos, operações e até mesmo prisões" diz o jornal, acrescentando que o acordo deve ser homologado nas próximas semanas pela Justiça. O site O Antagonista acrescenta que a Polícia Federla "exigiu provas de todas as acusações do 'italiano', o que restringiu o alcance da delação". E acrescenta: "Como ele evitou mencionar o nome de criminosos com foro privilegiado, o responsável pela homologação é o juiz Sergio Moro."

A notícia do jornal O Globo de Antonio Palocci estaria negociando delação premiada com a Polícia Federale  citaria pelo menos dois bancos, derrubou ações do Bradesco ontem na Ibovespa, porque o mercado acredita que esta seria a instituição "com grande atuação varejista no país" citada na matéria, diz o site Infomoney. O ex-ministro de Lula e Dilma, ainda conforme o jornal, também teria revelações sobre integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), um dos alvos centrais da Operação Zelotes, e incluiria nomes de dois ministros de tribunais superiores.

Um dia depois de não admitir o pedido de habeas corpus da defesa do ex-ministro, o Supremo decidiu hoje, por sete votos a quatro, manter na cadeia Antonio Palocci, que está preso desde setembro de 2016 em Curitiba no âmbito da Operação Lava Jato. A maioria dos ministros entendeu que não há ilegalidade nem excesso na duração da prisão preventiva do ex-ministro detido há mais de um ano e meio, que reivindicava recorrer em liberdade da condenação a 12 anos e 2 meses de detenção imposta na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro. Votaram contra a liberdade de Palocci os ministros Edson Fachin (relator), Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Rosa Weber, Celso de Mello e Cármen Lúcia. Votaram pela libertação Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski.