Garimpando História


Tancredo candidato a deputado por São João Del Rey
 
"Tancredo Neves era promotor em São João Del Rey, em Minas.
 
Um homem chamado Jesus matou uma mulher chamada Madalena. Tancredo pediu 22 anos de cadeia para Jesus, o júri deu 18, Jesus foi para a cadeia, Tancredo esqueceu. 
O tempo passou. Nove anos depois, Tancredo advogado, vai a Andrelândia, pequena cidade próxima a São João Del Rey. De barba por fazer, entra em modesta barbearia de canto de rua, senta-se, está cansado, fecha os olhos, o barbeiro pega a navalha, afia, começa a tirar-lhe a barba, puxa conversa :
 
— O senhor é o Dr. Tancredo Neves, né ?
 
Tancredo abre os olhos, reconhece Jesus, o assassino de São João Del Rey. Espia pelo canto do olho, a barbearia vazia, a rua vazia, não chegava ninguém, não passava ninguém, o suor minava aflito na testa molhada e Jesus com a navalha enorme na mão pesada correndo garganta abaixo, sobe-desce, sobe-desce, abrindo caminhos na espuma.
 
Jesus ficou só espiando. Tancredo só teve voz para dizer:
 
— Sou, sim.
 
— Pois é, Dr. Tancredo, a vida.
 
— Pois é, Jesus, a vida.
 
— Cumpri nove anos dos 18, estou aqui, o senhor aí, o senhor com sua barba, eu com minha navalha. Só queria lhe dizer uma coisa, Dr. Tancredo.
 
Tancredo suava, Jesus corria a navalha pelo pescoço :
 
— Que coisa bonita é um júri, hein, Dr. Tancredo? Que coisa mais bonita, que discursos bonitos que o senhor e o outro doutor fizeram!"
 




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Dante, nos tempos de Correio do Estado, relembra o colega Jorge Franco
Por Dante Filho, especial para o Blog:
 
Jorge Franco era um cara temperamental. Trabalhamos juntos no Correio do Estado lado a lado. Ele era editor de Esportes. Eu escrevia os editoriais do jornal. 
 
Um dia escrevi um texto furioso criticando a "turma da boquinha" do setor cultural de Campo Grande. O editorial logo cedo causou grande comoção e perplexidade entre artistas e intelectuais. 
 
Cheguei lá pelas 9 horas na redação e encontro Cristina Medeiros recebendo inúmeros telefonemas de protesto. Havia um clima pesado. Artistas são amigos de jornalistas, sabe como é. Ela não tinha lido o texto e estava confusa com o que estava acontecendo. 
 
Assim que ela me viu partiu para cima de mim com o jornal em punho. Aos gritos. 
 
Tentei manter a calma, pedindo primeiro que ela lesse o texto e que depois converssasse comigo. Eu estava calmo e achando aquilo tudo engraçado. Todos estavam nervosos, inclusive Jorginho. Mas quando cristina extrapolou, não me controlei e gritei com ela exigindo que, primeiro, ela lesse o texto para fazer uma avaliação correta dos protestos da "categoria". 
 
Nesse momento, Jorginho interfere e grita comigo também, defendendo Cristina. E não se fez de rogado: 
 
– "Vamos lá pra fora resolver esse assunto como homens. Vou te quabrar a cara!!!!"
 
Eu não aguentei e comecei a rir. Ele também. 
 
E logo em seguida voltamos para a nossas mesas e começamos o trabalho do dia. Achando tudo aquilo uma grande piada.
 
(Uma singela homenagem in memorian ao já saudoso jornalista, que era um bom contador de histórias, Jorge Franco, o Jorginho)
 




 
"No coração da gente". O slogan de campanha usado por André Puccinelli (PMDB) ao disputar a cadeira de prefeito de Campo Grande, que ocupou por oito anos e de onde se projetou para virar governador de Mato Grosso do Sul também por dois mandatos, é bastante conhecido na cidade. Mas quem afinal criou o símbolo do coração de suas campanhas? Não é obra de nenhum marqueteiro e, embora tenha sido novidade para os eleitores da Capital daquela época, o coração usado por André já era coisa antiga. 
 
Foi a marca de sua primeira campanha quando disputou em 1982 a prefeitura da pequena cidade de Fátima do Sul, seu berço político e de outras conhecidas lideranças do estado como o deputado Londres Machado (PR). Lá de Fátima, o professor Wagner Cordeiro Chagas, nosso colaborador, revela: a ideia de usar o coração como símbolo foi de Nilton Giraldelli, ex-vereador que em 1988 disputou a cadeira de prefeito de Fátima com seu amigo André de vice na chapa. Em e-mail enviado ao professor, Giraldelli relembrou a história: 
 
– "Estávamos reunidos em umas trinta pessoas na edícula do fundo da casa do André na rua Severino Araújo Ferreira e discutíamos a necessidade de criar um símbolo. Diante de várias sugestões, eu disse: ´Estamos colocando nosso coração, muito ideal e muita garra nessa campanha. Além do mais o André é médico, cirurgião geral e se precisar operar um coração ele opera`. Então, a ideia do coração se materializou. O André mandou fazer todo o material de campanha com o símbolo do coração, que perdura até hoje".    
 
Na época, cada partido poderia lançar até três candidatos à prefeitura pela sublegenda. Em Fátima do Sul, o PDS lançou dois: o médico Hermindo de David, apoiado pelo grupo do deputado Londres Machado, e Danilo Alves Corrêa, irmão do então deputado estadual Manfredo Corrêa, com apoio do atual prefeito Samir Chafic Garib. O PMDB lançou Puccinelli e Alcides Rodrigues, este  representando o distrito de Vicentina. 
 
A disputa foi acirrada. Logo em sua eleição de estreia, André foi o mais votado. Obteve 6.320 votos, e Alcides obteve obteve 394, somando 6.714. Porém, Hermindo se elegeu prefeito com 4.047 votos que somados aos 2.732 de Danilo totalizaram 6.779 na legenda, só 65 a mais do que o total obtido por André e Alcides. 
 
Brotava ali uma histórica rivalidade política entre o agora ex-governador André, que acaba de concluir seu segundo mandato, e o ex-deputado Londres, que se aposentou das disputas eleitorais e acaba de encerrar em 2014 seu décimo-primeiro mandato consecutivo na Assembleia, um recorde mundial.
 
Depois da eleição, Wilson Martins (PMDB), que se tornou naquele ano o primeiro governador eleito de Mato Grosso do Sul, nomeou o médico Puccinelli como secretário estadual de Saúde, dando início a sua carreira política em Campo Grande.