Garimpando História


Doria Júnior e seu pai, o publicitário João Agripino da Costa Doria, que adaptou o 'Valetine's Day' para o Brasil

Por Tiago Cordeiro, na Gazeta do Povo:

 

"Nos Estados Unidos e em boa parte da Europa, o Dia dos Namorados é comemorado no dia 14 de fevereiro. É a festa de São Valentim, um mártir da igreja que foi assassinado no ano 269. Mas Valentim não é popular no Brasil. Um publicitário baiano radicado em São Paulo resolveu relacionar a celebração do amor a outra figura, bem mais próxima do nosso imaginário: Santo Antônio.
 
O padroeiro dos casamentos é celebrado no dia 13 de junho. Pois o nosso Dia dos Namorados ficou para um dia antes, dia 12. Afinal, primeiro de namora. Depois, se casa.
 
O publicitário em questão é João Agripino da Costa Doria, pai do atual prefeito de São Paulo, João Doria Junior. Nascido em 1919, ele trocou a Bahia pelo Rio de Janeiro em 1942 e, dois anos depois, começou a carreira na publicidade como redator da empresa Standard Propaganda S.A.
 
Em 1945, assumiu a direção da filial da agência em São Paulo. Em 1948, ele se viu diante de um desafio: impulsionar as vendas da rede de lojas de roupas Exposição – Clíper.
 
O Dia das Mães garantia os lucros de maio. A data era popular no Brasil desde a década de 1910, mas apenas nos anos 1940 havia se tornado um fenômeno comercial. Faltava um fenômeno parecido em junho. Foi quando João Doria teve a sacada de relacionar uma nova data ao santo casamenteiro.
 
O anúncio impresso ignorava o fato de que, em quase todo lugar, o dia dos namorados é comemorado em fevereiro: 'Êste (sic) é o dia em que no mundo inteiro as criaturas que se amam trocam juras de amor e ternos presentes...' E finalizava: 'Não se esqueçam: amor com amor se paga'.
 
Publicitário de sucesso, João Doria acabou criando a própria agência em São Paulo. Depois fez um rápido retorno a Salvador, onde foi um dos criadores do marketing político. Eleito deputado, seria cassado pela ditadura em 1964. Depois de dez anos de exílio, retornaria a São Paulo, onde viveria até a morte, em 2000."





Tancredo Neves, o informante estratégico
 
"Durante a campanha pelas Diretas Já, em 1983/84, o jornal Folha de S.Paulo transformou o assunto em sua bandeira, até com uma fitinha verde-amarela no alto da primeira página. Noticiário e editoriais davam como garantida a vitória da emenda que devolvia ao país as eleições diretas para presidente da República, depois de 20 anos de ditadura - a emenda Dante de Oliveira. 
 
O jornal cantava a vitória e abria fotos do povo nas praças. A contagem a favor só crescia. Seu concorrente o Estado de S. Paulo era mais sóbrio e cauteloso e tinha lá seus motivos. Um deles, um informante especial em Brasília. Ao ser questionado sobre a contagem da Folha, que dava mais de cem votos a favor da emenda, o informante deu uma boa risada ao telefone e completou assim a conversa :
 
– Meu filho, fique tranquilo, eles não sabem contar.
 
Era Tancredo Neves."
 




José Valdetário Benevides, o Valdetário Carneiro
 
"O lendário Valdetário Carneiro contribuiu para os causos de Caraúbas/RN.
 
Ia ele em sua pick up na zona rural de Apodi. Próximo à cidade, um senhor meio alquebrado pelos anos acenou pedindo carona. Valdetário prontamente o atendeu, abrindo a porta. Já aboletado e no conforto do ar condicionado, começou a puxar conversa:
 
– O senhor vai pro Apodí ?
 
– Vou sim -, respondeu Valdetário, vou tratar de negócios no banco.
 
O carona resolveu dar uma de conselheiro:
 
– O senhor tenha cuidado. Se vai tirar dinheiro no banco e andando nesse carrão, aqui por essas bandas, tenha cuidado pois há gente perigosa por aí. Tem um tal de Valdetário Carneiro, homem de muita fama que pode ser um grande risco, principalmente pra quem é de fora.
 
Valdetário riu da situação e até agradeceu:
 
– Obrigado, eu vou ficar atento.
 
Em seguida devolveu a pergunta:
 
– E o senhor não tem medo de estar sozinho nessa beira de estrada? E se de repente lhe aparece o tal do Valdetário Carneiro?
 
– Ele que venha - completou o carona com valentia de quem se sente em confortável distância do perigo. E acrescentou: '– Um homem nasceu pro outro.'
 
Chegados ao destino, o carona já ia descendo quando resolveu fazer mais uma pergunta.
 
– Obrigado por tudo, senhor. Vá com Deus. Mas como é mesmo o seu nome?
 
Com toda naturalidade Valdetário respondeu:
 
– Eu sou Valdetário Carneiro. E o senhor como se chama ?
 
Branco como algodão, suando pelos poros, com as pernas trêmulas e a voz embargada, o carona mal conseguiu balbuciar:
 
– Eu sou o finado Manoel."
 

 





Estátua de Dinarte Mariz na Via Costeira, que leva seu nome, em Natal
 
"Dinarte Mariz (UDN) era governador do Rio Grande do Norte. Em uma de suas costumeiras visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta :
 
– 'Como vai, Zé Pequeno?'
 
O amigo, meio tristonho e cerimonioso, responde:
 
– 'Governador, o negócio não tá fácil; são oito filhos mais a mulher... tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir.'
 
O velho Dinarte o interrompe de pronto :
 
– 'Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi!'
 
Vira-se para Dona Nani e ordena:
 
– 'Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado.'
 
Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e vai logo informando:
 
– 'Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto; como podemos nomear...'
 
Antes que concluísse a fala, o governador atalha:
 
– 'Virge Maria, Dona Nani! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente.' 
 
E assim foi feito!"
 




Criação de MS assinada por Geisel comemorada em Campo Grande
Mato Grosso do Sul completa hoje 39 anos de sua criação pela Lei Complementar nº 31 assinada no dia 11 de outubro de 1977 pelo então presidente Ernesto Geisel, desmembrando o antigo Mato Grosso uno. Realizava-se ali um antigo sonho dos divisionistas que se iniciou no começo do século passado. Mas, desde o início, as divergências e rivalidades políticas marcaram os rumos do Estado que então nascia.
 
Os três primeiros senadores – Pedro Pedrossian, Mendes Canale e Rachid Saldanha Derzi – queriam a cadeira de governador. Sem acordo entre eles, o novo Estado começou a ser governado por um forasteiro. Geisel convocou o gaúcho Harry Amorim Costa, presidente do antigo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), e o nomeou como primeiro governador de MS. 
 
Incomodadas com o "intruso", lideranças locais deram uma trégua em suas disputas, se uniram em pressões políticas e Harry foi substituído por Marcelo Miranda, que por sua vez também enfrou fortes adversários e acabou "trocado" pelo governo militar por Pedrossian que comandou o Estado até as primeiras eleições diretas, que elegeram Wilson Martins governador em 1982. 
 
Durante o processo de criação chegou a ser formulado em Cuiabá um projeto daria ao novo Estado o nome de Campo Grande. As divergências, entretanto, não permitiram um acordo em torno de um nome. E, em cima da hora, optaram pela solução mais prática - acrescentar "do Sul" ao nome do antigo estado para a região em emancipação. Assim, surgiu a denominação Mato Grosso do Sul, que até hoje leva moradores de outras regiões a confundir os dois estados, irritando os sul-mato-grossenses.
 
Vale citar que antes da divisão do Mato Grosso uno, havia um temor em Cuiabá de que o novo Estado do sul disparasse em desenvolvimento por sua proximidade com grandes centros como São Paulo, mais facilidade de acesso aos portos e por ser dotado de ferrovia, enquanto o norte ficaria para trás, à deriva. Quatro décadas depois, essas "profecias" e temores não se cumpriram. A famosa ferrovia da Noroeste do Brasil (NOB) foi sucateada no sul, enquanto o norte seguiu seu ritmo.
 
E, apesar das rivalidades políticas, as vezes acirradas, mas também necessárias, entre erros e acertos Mato Grosso do Sul vem superando crises e segue em frente como um dos principais celeiros da agropecuária, além de avançar nos setores do comércio e indústria e fomentar sua vocação turística aprendendo a explorar de forma sustentável seus encantos naturais, como a paradisíaca Bonito e a região do Pantanal. 
 
Pelas lutas e encantos... parabéns aos sul-mato-grossenses pelos 39 anos de história!
 




Colbert e Mazarin: ataque à classe média desde a época de Luís XIV

Marcela e Temer no desfile em Brasília: protestos hoje e há 31 anos

Fidel Castro, ícone do século 20 chega aos 90 anos
O guerrilheiro que combateu ao lado de Ernesto Che Guevara e aparecia nas fotos com o famoso charuto está distante do poder, ao menos em termos protocolares, mas, apesar dos pesares da idade, segue reverenciado como o principal líder de Cuba que celebra neste sábado os 90 anos de vida de Fidel Alejandro Castro Ruz. Amado e odiado por muitos, o pai da Revolução Cubana cumpriu a promessa feita uma semana depois do início do movimento armado, quando pronunciou uma frase quase profética. "Eu serei o homem mais odiado de Cuba", disse, em 8 de janeiro de 1959.
 
As celebrações incluem a tradicional cerimônia do “Canhonazo de las nueve” — às 21h de hoje (22h DF), haverá disparos de artilharia na Fortaleza de San Carlos de la Cabaña e a abertura da exposição fotográfica intitulada Fidel é Fidel. Três horas depois, um grande concerto com artistas cubanos ocorrerá na Tribuna Antiimperialista José Marti, praça ao lado do Malecón e da Embaixada dos Estados Unidos. Outras cerimônias estão previstas para outras localidades da ilha socialista.
 
A historiadora carioca Claudia Furiati, autora de "Fidel Castro – Uma biografia consentida", considera o “Comandante” como "o último líder vivo e um dos maiores estadistas do século 20". “Ele traduz, por toda a sua vida e sua obra, o símbolo do guerreiro libertador do Terceiro Mundo. Fidel foi, e é, o grande militante aintiimperialista, o que muitos chamam, em outro código, de ditador comunista. Por ter pregado e realizado um ideal de emancipação, com enorme capacidade e inteligência, ele despertou ódio e desejo de morte", comentou.
 
Fidel teria sofrido pelo menos 680 tentativas de assassinato por parte da Agência Central de Inteligência (CIA). Para matá-lo, os EUA teriam usado uma espiã que virou "noiva" de Fidel, um traje de neopreno coberto de bactérias e um drinque envenenado, entre outros recursos. "Fidel não desafiou apenas os Estados Unidos. Ele nos faz lembrar que é plenamente possível não ser quintal, cliente ou freguês dos EUA", acrescentou Furiati. 
 
Durante três anos e meio, o jornalista cubano Roberto de Jesus Guerra Pérez viveu como preso político por denunciar as arbitrariedades do regime castrista. "Foram mais de 200 detenções desde 2005. Eles me mantiveram por seis meses e oito dias sob tortura. Toda a minha família foi encarcerada", relatou à reportagem o diretor-geral da agência de notícia Hablemos Press, sediada em Havana. "Para mim, Fidel representa ódio, traição, um ditador que soube enganar amigos e inimigos. Mas eu reconheço que ele é um brilhante pensador, manipulador das massas e um homem que soube como manobrar a liderança."
 
(Com Rodrigo Craveiro, do Estado de Minas)
 




A matriz de Santo Antônio e o Hotel Americano nos anos 50