Vizinhos queimam bandeiras do Brasil contra avanço do "novo império", diz New York Times

New York Times/Reprodução
Vizinhos queimam bandeiras do Brasil contra avanço do "novo império", diz New York Times
Matéria do NYT destaca protestos contra a

Após décadas ficando só na plateia assistindo (e muitas vezes aplaudindo) protestos feitos mundo afora contra o imperialismo dos Estados Unidos quando figurava entre os pobres, o emergente Brasil deve começar a se acostumar a ver suas bandeiras queimadas nos países vizinhos. Matéria do jornal The New York Times intitulada "Brazil’s Long Shadow Vexes Some Neighbors" (algo como "Grande sombra do Brasil irrita alguns vizinhos"), mostra que o nosso país está tomando o lugar dos EUA em protestos contra seu poderio econômico na América Latina. 

Com a foto acima, o influente diário estado-unidense destaca manifestação de indígenas na vizinha Bolívia realizando uma longa marcha nas planícies centrais de La Paz para protestar contra um projeto brasileiro de construir estrada cortando o território boliviano. Os índios criticam o irmão presidente Evo Morales chamando de "lacaio do Brasil" ("Llunk´u do Brasil", dizia um dos cartazes em Quechua, língua indígena). Primeiro presidente indígena da Bolívia e ambientalista confesso, Evo de repente viu-se em desacordo com uma parte importante da sua base política, defendendo o projeto brasileiro que pode aumentar o desmatamento, informa o jornal. 
 
Na imprensa boliviana, intelectuais tem destacado a tendência "imperialista" da burguesia industrial e financeira que parte de São Paulo, comparando-a aos bandeirantes, caçadores de escravos que expandiram as fronteiras do Brasil colonial. "O poder mudou de um lado da Avenida Arce para o outro", disse Fernando Molina, colunista de um jornal da capital boliviana, referindo-se à rua em La Paz onde a residência do embaixador brasileiro fica em frente à embaixada altas dos EUA. Depois dos protestos, Evo Morales cedeu às pressões e descartou a estrada no território, diz o jornal estado-unidense. 
 
A tal estrada barrada pelos indígenas bolivianos seria um dos trechos da famosa rota bioceânica que o ex-governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, tanto falava na época do governo de seu companheiro Lula. Se ainda não virou realidade, aos poucos, sob protestos ou não, a rota vai avançando com uma estrada aqui, outra ali, cortando caminho nos territórios vizinhos para levar produtos brasileiros aos portos do Chile no oceano Pacífico. Isso evitaria a enorme volta que dos navios que saem dos portos de Santos e Paranaguá e baratearia enormemente o frete, tornando os preços dos produtos tupiniquins bem mais competitivos no mercado internacional.
 
PARAGUAI E OUTROS PAÍSES
 
Os protestos contra o Brasil não se restringem à vizinha Bolívia. O New York Times enumera outros exemplos, como o projeto de construir uma estrada através das selvas da Guiana para a costa, parado por causa de temores de que o Brasil poderia superar seu pequeno vizinho com a migração e comércio. Na Argentina, autoridades suspenderam grande projeto de uma mineradora brasileira, acusando-a de não contratar moradores locais o suficiente. Tensão no Equador levou uma hidrelétrica na planta a provocar uma batalha jurídica e na Amazônia peruana índios protestam contra projeto de uma barragem.
 
O NYT cita que, embora empresas de outros países, como a China, também estejam se expandido rapidamente na América Latina, o Brasil é o principal alvo dos protestos "por ser o maior país da região com cerca de 200 milhões de pessoas e o tamanho e ousadia de sua ascensão ao longo dos últimos dez anos ajudam a explicar algumas das tensões que gerou". O diário divulga ainda o caso dos "brasiguaios" no vizinho Paraguai. "Centenas de milhares de imigrantes brasileiros e seus descendentes se instalaram no Paraguai, muitas vezes, comprando terras para agricultura em grande escala em um país com uma população muito menor. Chamados brasiguaios, eles têm sido comemorados por ajudar a expansão da economia do Paraguai e demonizados por controlar grandes extensões de terra, às vezes levando ativistas rurais a queimar a bandeira brasileira", descreve o texto.
 
"Quando Kissinger veio para o Brasil mais de três décadas atrás, ele advertiu a seus anfitriões que eles poderiam acabar por ser temido do que amado por seus próprios vizinhos", lembrou Matias Spektor, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Biato, justifica os financiamentos e investimentos feitos pelo Brasil nos países vizinhos. "Queremos que o Brasil seja rodeado por países estáveis e prósperos", disse ao NYT. 
 


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Postado por: Marco Eusébio, 05 Novembro 2011 às 11:16 - em: Principal


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