MS 40 Anos: O governo Wilson Barbosa Martins (PMDB/1983-1986) Wagner Cordeiro Chagas (*)

MS 40 Anos: O governo Wilson Barbosa Martins (PMDB/1983-1986)

Ao dar continuidade aos artigos sobre os governos sul-mato-grossenses ao longo desses 40 anos de existência do estado, chego ao primeiro governo eleito pela vontade popular, o de Wilson Barbosa Martins e de seu vice, Ramez Tebet, ambos do PMDB, eleitos no pleito de 15 de novembro de 1982.
 
Advogado nascido em 1917, na cidade de Campo Grande, Wilson Martins foi prefeito daquela cidade pela UDN, entre 1959 e 1963; deputado federal por 2 mandatos, um pela UDN (1963-1967) e outro pelo MDB (1967-1969), partido de oposição à ditadura militar. No último mandato de deputado foi cassado pelo Ato Institucional número 5 (AI-5), que autorizava cassar parlamentares que representassem riscos à permanência da ditadura no Brasil. Wilson foi cassado, principalmente, devido a seus discursos na Câmara dos Deputados, em defesa da democracia e contra a cassação do deputado federal Marcio Moreira Alves (MDB-Guanabara). Em 1979, Wilson foi eleito o primeiro presidente da OAB-MS. 2 anos depois elegeu-se governador.
 
Ao tomar posse, no dia 15 de março de 1983, Wilson e Ramez herdaram dívidas da gestão Pedro Pedrossian (PDS) que chegavam, segundo o jornal O Progresso, a ordem de 130 bilhões de Cruzeiros, umas das maiores do País. Além disso, inúmeras obras inconclusas, falta de vagas em escolas públicas, aliada à situação nacional de altas taxas inflacionárias e falta de recursos, compunham o rol de desafios do novo governo.
 
Politicamente, na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, o governo enfrentava o fato de não possuir uma ampla base política, visto que, nos primeiros anos de gestão, o número de deputados da situação e oposição ficou igualado (12 do PMDB e 12 do PDS, na Assembleia; 4 do PMDB e 4 do PDS, na Câmara).
 
O governo Wilson Barbosa Martins foi marcado pelo processo de redemocratização das instituições políticas de Mato Grosso do Sul e o incentivo à participação popular, por meio de programas como Governo Itinerante; Mutirão; Sindicalizando Muda (incentivo aos trabalhadores se sindicalizarem). Essas políticas foram criadas graças à participação dos comunistas do PCB naquela administração. O reconhecimento da FEPROSUL como única entidade representante do magistério estadual, por meio da extinção da APMS, foi outro exemplo de gestão democrática. No entanto, manifestação maior de redemocratização por aqui foi o governo Wilson Martins coordenar a campanha das Diretas Já, nos anos de 1983 e 1984, em cidades como Campo Grande e Dourados, em defesa de eleições livres para presidente da República.
 
A administração Wilson experimentou dois modelos de gestão federal. Um militar, em processo de finalização (governo João Figueiredo/PDS) e outro democrático (José Sarney/PMDB). Foi com o governo Sarney que o estado conseguiu, a partir de 1985, importantes projetos aqui implantados, como o início tímido do processo de reforma agrária. Mas, foi nesse mesmo processo que o governo mostrou um lado, de certo modo, truculento, quando, segundo o escritor Sergio Cruz, autorizou a Polícia Militar a despejar, debaixo de chuva, mais de mil famílias de sem-terras que ocupavam uma área no município de Ivinhema.
 
Em termos de obras, a gestão foi caracterizada por um grande número de rodovias pavimentadas e construção de escolas. A obra rodoviária mais emblemática foi a que permitiu concluir a pavimentação da BR-262, entre Miranda e Corumbá, e de Três Lagoas ao distrito de Garcias. Uma importante obra de integração entre Brasil e Bolívia. Essa e outras pavimentações só foram possíveis graças a uma manobra política feita pelos senadores do PMDB. Na verdade os recursos deveriam ter sido liberados na gestão Pedro Pedrossian, que desejava realizá-la, mas devido à oposição dos senadores aquele governo, os recursos não vieram. Com Wilson e o PMDB no comando do Executivo estadual os recursos foram garantidos e liberados.  
 
Em 1986, o Brasil passaria por novas eleições para governador, senador, deputado federal e estadual. Wilson Martins renunciou ao cargo em maio daquele ano para candidatar-se ao Senado Federal (obtendo êxito). Mato Grosso do Sul passou a ser administrado pelo vice, Ramez Tebet.
 
Wilson Barbosa Martins cumpriria 8 anos como senador por MS, destacando-se na Assembleia Nacional Constituinte (responsável pela elaboração da Constituição de 1988). Nas eleições de 1994, candidatou-se novamente ao governo e foi eleito já no primeiro turno. Aos 21 dias de junho deste ano, Wilson Barbosa Martins completou seus 100 anos de idade.
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é professor-mestre de História em Fátima do Sul - MS e autor do livro As eleições de 1982 em MS - Life Editora 2016)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 10 Agosto 2017 às 13:15 - em: Falando Nisso


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