MS 40 Anos: O governo Ramez Tebet (PMDB/1986-1987) Wagner Cordeiro Chagas (*)

MS 40 Anos: O governo Ramez Tebet (PMDB/1986-1987)

Em continuidade aos artigos sobre os governos de MS, ao longo desses 40 anos, chega-se à descrição das características do governo de Ramez Tebet, o primeiro caso de vice-governador que assumiu o mandato do titular para encerrar o período de mandato neste estado. Ramez era vice de Wilson Barbosa Martins, o qual, como já foi apresentado no texto anterior, renunciou ao governo para concorrer a uma vaga de senador nas eleições de 1986.
 
Nascido em Três Lagoas, no ano de 1936, Ramez Tebet era promotor de Justiça e, em 1975, ingressou na política como prefeito nomeado do município de Três Lagoas. No período da ditadura militar localidades que possuíam usina hidrelétrica, como é o caso de Três Lagoas, os prefeitos não eram eleitos, pois os municípios eram classificados como área de segurança nacional.
 
Pertencente à Arena (partido de sustentação da ditadura), elegeu-se deputado estadual em 1978, na primeira eleição para o parlamento de sul-mato-grossense. No ano de 1979 afastou-se da função por dois meses para assumir a Secretaria de Justiça do governo Marcelo Miranda (Arena-PDS/1979-1980). Em 1980, Ramez filiou-se ao PMDB e no ano de 1982 foi escolhido por membros do partido candidato a vice-governador.
 
Ramez Tebet foi empossado governador no dia 14 de maio de 1986 e concluiu diversas obras iniciadas por Wilson Martins. No entanto, seu mandato “tampão” não foi apenas para finalizar a gestão iniciada em 1983. A administração Ramez inovou ao criar pela primeira vez aqui um programa de premiação para o contribuinte que exigisse nota a fiscal no ato de compra, uma forma de ajudar o governo no combate à sonegação fiscal. Era o FISCA – Fiscal da Nota Fiscal. Nasceu também o programa de rádio 15 Minutos com o Governador, onde o chefe do Executivo estadual apresentava as ações da gestão à população.
 
O governo Ramez Tebet precisou tomar medidas enérgicas quando o governo federal (José Sarney - PMDB) criou o Plano Cruzado, utilizando o congelamento de preços como metodologia para o combate à inflação galopante. Com isso, muitos produtos começaram a faltar no País, como, por exemplo, a carne bovina. Vários produtores de carne não aceitavam vender o produto a um preço congelado e tabelado e por isso diminuíam o abate ou levavam o gado para ser abatido e vendido em outros estados. De acordo com o autor Castilho Coaraci, autor de uma biografia sobre Ramez Tebet, o governador autorizou o fechamento das fronteiras com outros estados para evitar isso.
 
Em termos de obras públicas, esta administração concluiu a construção de 25 escolas estaduais, o estádio Douradão (Dourados) e o anel rodoviário de Campo Grande. Lançou a construção do quartel do Corpo de Bombeiros de Fátima do Sul e do terminal rodoviário de Mundo Novo. Fez a conclusão da pavimentação da BR 060, entre Bela Vista e Jardim. Na área energética estendeu em mais de 400 km as linhas de transmissão para os municípios de Cassilândia, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Inocência e Selvíria.
 
Ainda conforme Castilho Coaraci, na saúde criou-se o Saúde Nota 10, programa iniciado em 5 municípios e que garantia tratamento dentário às crianças matriculadas nas escolas estaduais. O governo também foi responsável pela aprovação da Lei 661/86, a qual efetivou cerca de 20 mil funcionários públicos do quadro de Mato Grosso do Sul que não tinham alguns direitos garantidos, como a estabilidade no emprego.
 
Politicamente, Ramez Tebet teve papel relevante na campanha do PMDB ao governo, no pleito de 1986. O partido tinha como candidato o então senador e ex-governador nomeado Marcelo Miranda Soares. Era a Aliança Democrática, formada principalmente por PMDB e PFL. Também concorreram ao governo o ex-prefeito de Campo Grande, Lúdio Coelho (PTB), e o economista e professor universitário Luis Landes Pereira (PT). 
 
Numa eleição marcada nacionalmente pela influência do Plano Cruzado, que por alguns meses segurou a inflação e fez os trabalhadores brasileiros respirarem um pouco aliviados, o PMDB venceu em 22 dos 23 estados existentes naquela época. Mato Grosso do Sul seguiu o mesmo caminho e elegeu Marcelo Miranda. Após o governo, Ramez Tebet foi superintendente da SUDECO. Elegeu-se senador pelo estado em 1994 e 2002. 
 
Entre junho e setembro de 2001 foi ministro da Integração Nacional do governo Fernando Henrique (PSDB/1995-2002). No mês de setembro de 2001 foi eleito presidente do Senado Federal, após a renúncia do então presidente Jader Barbalho (PMDB-PA). Faleceu no final de 2006, vítima de câncer. 
 
Em 2014, a herdeira política de Ramez, sua filha Simone Tebet, foi eleita senadora por Mato Grosso do Sul, pelo PMDB.
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é professor-mestre de História em Fátima do Sul - MS e autor do livro As eleições de 1982 em MS - Life Editora 2016)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 24 Agosto 2017 às 10:15 - em: Falando Nisso


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