Minha história com a história de MS40Anos Wagner Cordeiro Chagas (*)

Minha história com a história de MS40Anos

Uma curiosidade nascida nos bancos escolares pode mudar para sempre a vida de um estudante. Foi o que aconteceu comigo. No ano de 2002, quando cursava o 2º do ensino médio na Escola Estadual Izabel Mesquita, da cidade de Fátima do Sul, minha turma participou de um projeto de pesquisa, as saudosas aulas de projeto, política da Secretária de Educação da gestão Zeca do PT. Naquela empreitada, professores, coordenação, direção escolar, funcionários administrativos e comunidade uniram-se para nos auxiliar nos trabalhos que deveríamos fazer a respeito da história de Mato Grosso do Sul. Lembro-me que o grupo do qual participei ficou responsável por tratar da temática dos governadores deste estado. O resultado foi excelente e para mim algo que despertou curiosidade pela história política estadual, além de me levar a ter uma visão diferenciada da política e suas dinâmicas.
 
Ao longo daqueles meses de aulas e pesquisas entrei em contato com duas referências bibliográficas a respeito da história sul-mato-grossense. A primeira, um livro, do pesquisador Hildebrando Campestrini, “História de Mato Grosso do Sul”, e a segunda, um texto da historiadora Marisa Bittar, intitulado “Uma Breve História de Mato Grosso do Sul (1977-1999)”.
 
Naquele mesmo ano, um evento marcou minha vida e meus ideais: as eleições gerais no País. Eu já havia participado, aos 16 anos de idade, de uma eleição municipal, a do ano 2000. No entanto, 2002, foi quando dei meu primeiro voto para os cargos de presidente, governador, deputado federal, deputado estadual e senador. Fiquei encantado pelos ideais de esquerda moderada do PT e votei em 4 candidatos do partido: entre eles Lula para presidente e Zeca para o governo.
 
Poder participar daquele momento histórico da chegada de um operário e retirante nordestino ao cargo máximo do Brasil foi sensacional. A partir daquele momento estava decidido a participar das discussões políticas, pesquisar, ler mais a respeito. Gostava muito de conversar com seu Toinzinho, um vizinho, trabalhador rural, com uma história de luta e muitas esperanças de um Brasil justo para todos os seus filhos. Tudo isso associado às minhas origens humildes, filho de proletários urbanos, levaram-me a inclinar pelos ideias de esquerda moderada, onde pude acreditar ser possível melhorar a vida dos mais humildes, dos excluídos de uma nação, sem necessariamente derrubar um sistema, confiscar propriedades particulares ou implantar ditaduras sanguinárias em nome de um ideia.
 
No ano de 2005 veio o ingresso no curso de Licenciatura em História da então UFMS de Dourados, atual UFGD. Lá pude encontrar novos caminhos para a pesquisa histórica, e o que é mais importante aprender a pesquisar de fato, seus métodos, seus teóricos, as dificuldades e as satisfações de ter uma pesquisa concluída, publicada, compartilhada. Entrei em contato com o Centro de Documentação Regional da Faculdade de Ciências Humanas (CDR-FCH/UFGD), local de riquíssimo acervo sobre diversos aspectos de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, como jornais, fotos e livros.
 
Iniciei as primeiras pesquisas em 2007, quando passei a conviver com documentos oficiais do Estado, como as Atas da Assembleia Legislativa e os Relatórios dos Governadores de Mato Grosso do Sul, além do acervo dos jornais O Progresso, Correio do Estado, Diário da Serra e Diário MS. Aos poucos essas pesquisas levaram a outras, até culminar na minha pesquisa de maior amplitude: o trabalho de mestrado, defendido em 2014, referente à primeira eleição direta para governador de nosso estado, ocorridas no ano de 1982. A pesquisa esteve sob orientação de um baita intelectual e meu grande amigo Paulo Roberto Cimó Queiroz.
 
Encerrado o período de 9 anos na universidade continuo inspirado e com desejos de conhecer melhor a respeito de nosso estado. Devido a isso, iniciei em abril deste ano uma série de artigos a respeito das características de cada administração sul-mato-grossense. É importante ressaltar a necessidade de se conhecer nossa história política, pois os processos políticos influenciam na vida de todos nós cidadãos. Nestes textos procuro mostrar a participação não apenas dos gestores nos destinos do estado, mas também da nossa população.
 
Assim, pretendo continuar a colaborar com a produção de conhecimento sobre a história política de Mato Grosso do Sul e se possível despertar a curiosidade de outros estudantes como ocorreu comigo. Nestes 40 anos de criação desta unidade federativa é importante também que as autoridades políticas reforcem seus compromissos com a educação para proporcionar o despertar da curiosidade em todos os nossos estudantes e com isso formar cada vez mais uma geração de cidadãos e cidadãs que vejam os estudos não apenas como meio de satisfação profissional, mas também como caminho da construção de uma sociedade mais justa e humana.
 
(*Wagner Cordeiro Chagas é professor-mestre de História em Fátima do Sul - MS e autor do livro As eleições de 1982 em MS - Life Editora 2016)


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Postado por: Wagner Cordeiro Chagas (*), 18 Outubro 2017 às 12:45 - em: Falando Nisso


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